Por: Lucas Moreira W.E.B Du Bois (1968 – 1963) foi um importante sociólogo, intelectual e militante negro norte-americano. Nasceu no Estado de Massachusetts, em uma comunidade de conflitos raciais menos intensos e, posteriormente, teve contato com a realidade do sul do país e suas leis Jim Crows. Obteve diploma pela Universidade Fisk e pela Universidade de Harvard, sendo um dos primeiros homens negros a conseguir PhD de Harvard. Suas obras geraram grande impacto sobre a luta antirracista nacional e internacional, sobretudo “As Almas da Gente Negra” de 1903 e “A Reconstrução Negra na América” de 1935. Anticapitalista e defensor do pan-africanismo, foi um dos fundadores do Movimento Niagara, da Associação Nacional para o Desenvolvimento das Pessoas de Cor (NAACP), da American Black Academy e também organizador de Congressos Pan-Africanos. Considerado um dos pais do movimento pelos direitos civis, morreu um dia antes da Grande Marcha de Washington na qual Martin Luther King proferiu o discurso “I have a dream”. Entre as rotas de vida que Du Bois gostaria de seguir, uma era produção literária, almejando estimular novos criadores e escritores negros. Assim, trazemos como recomendação para o PET Indica a sua obra “O Cometa” de 1920. O conto fictício narra uma Nova York silenciosa e apocalíptica momentos após a passagem de um misterioso cometa. Entre os sobreviventes há Jim e Julia: um homem negro que exercia trabalhos subalternos e uma mulher branca de classe mais abastada. Presos em um cenário distópico e cercados pela solidão, os dois estranhos convivem com sentimentos de desconfiança, ressentimento e preconceito, resquícios de um mundo que não mais existe, mas também desenvolvem um sentimento glorioso diante da possibilidade de construírem algo novo e diferente a partir das ruínas. Du Bois, mesmo abordando um cenário distópico, não deixa de tratar as questões raciais e os problemas da barreira de cor. Na ficção, retrata o realista mundo em que negros e brancos são cindidos por um véu e vivem simultaneamente no mesmo mundo e em mundo distintos. Como indicado por Hartman, é feita uma sátira de um modelo de democracia falida, desigual e racializada. Nos é revelado que Jim é negro apenas a partir do contato com o branco que lhe estranha e a sua humanidade é reconhecida gradualmente, devido as circunstâncias do cenário que nos é apresentado. A ausência das antigas normas, divisões e estruturas sociais e de poder já não existem e, desta forma, o autor nos dá o vislumbre da possibilidade de dissolução das barreiras de cor. É ao discorrer sobre as questões e os problemas raciais que Du Bois discorre sobre a sociedade, emancipação e humanidade. Sua narrativa constantemente transita entre a angústia e a glória por serem os últimos e primeiros humanos do mundo; entre as mazelas do passado e a possibilidade de um futuro promissor. Na obra, a humanidade e emancipação do negro depende do fim de um mundo e da criação de outro. Portanto, aquí poderíamos extrapolar e conceber o conceito de “mundo” como Ailton Krenak em sua obra “Ideias para adiar o fim do mundo”, como diversos mundos sendo possíveis e com distintas cosmovisões (concepções de mundo). Logo, a garantia da humanidade e emancipação do negro depende de: 1) Anunciar o fim para um mundo com véus e barreiras de cor, antes que este leve o fim a outros mundos, povos e grupos subalternizados; 2) Construir outras possíbilidades de mundo a partir das cosmovisões e da realidade daqueles que Fanon chamou de “os condenados da terra”. Bibliografia: DU BOIS, W.E.B. As Almas do Povo Negro. São Paulo: Veneta. 2021. DU BOIS, W.E.B; HARTMAN, Saidiya. O Cometa: + O fim da supremacia branca. São Paulo: Fósforo. 2021. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras. 2019 SOUSA, Fernanda Silva e. W.E.B Du Bois evidência que a literatura negra sempre foi profícua. Folha de São Paulo, 2021. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/06/web-du-bois-evidencia-que-a-literatura-negra-sempre-foi-proficua.shtml > TELLES, João Gabriel. W.E.B Du Bois imagina se o fim do mundo pode dar fim à segregação racial em conto. Diario de Cuiaba. 2021. Diponível em <https://www.diariodecuiaba.com.br/ilustrado/w-e-b-du-bois-imagina-se-fim-do-mundo-pode-dar-fim-a-segregacao-racial-em-conto/582326>
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Quarto de Despejo da autora Carolina Maria de Jesus, é um diário publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma escritora, compositora e poetisa brasileira, mãe solteira e pouco instruída. Nasceu em 14 de março de 1914, em Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade rural. Foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil. Viveu grande parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, lutou muito para sustentar seus três filhos com o trabalho de catar papéis.
No ano de 1937, Carolina de Jesus perde a mãe e se vê obrigada a migrar para São Paulo. Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida passa a morar na extinta favela do Canindé. Seu livro Quarto de Despejo teve inicialmente a tiragem de dez mil exemplares e esgotou-se em uma semana. Desde sua publicação a obra já vendeu meio milhão de exemplares e foi traduzida para catorze línguas. Depois que Carolina publicou a obra teve de enfrentar a raiva de seus vizinhos, que a acusaram de ter colocado suas vidas no livro sem autorização. A autora chegou a relatar que muitos dos moradores da favela chegaram a jogar, nela e em seus três filhos, os conteúdos de seus penicos. O livro que indico Quarto de Despejo foi escrito em (1960), é um diário editado por Audálio Dantas, escrito por Carolina Maria de Jesus ao longo de 5 anos (entre 1955-1960). Um traço presente nessa obra que Carolina retrata é a fome vivida por ela e pelos filhos. O leitor é tocado a compreender a dificuldade que ela passou por não conseguir dinheiro para sustentar a família, muitas vezes recorria ao lixão para recolher restos de alimentos. Quando conseguia dinheiro, chegava em casa com alimentos e via a felicidade nos olhos de suas crianças. Além de escrever sobre seu sofrimento e a realidade da favela, ela aborda temas como o alcoolismo, violência doméstica, brigas de vizinhos. Preocupava-se também com a situação social, econômica e política do povo da favela. Em muitas passagens a autora relata sua dificuldade de ser mãe solteira e viver em extrema pobreza. Há passagem no diário que Carolina enfatiza a importância da fé em sua vida e como ela foi de suma importância para que enfrentasse a dura realidade do povo favelado. Carolina de Jesus, apesar de ter escrito Quarto de Despejo em 1960, pontua temas bem atuais. Ainda hoje a mulher negra, solteira e com filhos, continua sofrendo agressões domésticas, é mantenedora do lar, vive em situação de escravidão no seu trabalho diário fora de casa além de ter dupla jornada de atividade para levar o sustento para casa. Enfim Carolina de Jesus buscou exprimir a realidade que existe na periferia do Brasil. E nos faz compreender o cotidiano de uma catadora de papel moradora de favela e ao mesmo tempo, nos permite refletir sobre valores morais e o descaso que existe com o povo da favela. A obra Por um feminismo afro-latino-americano, lançada em 2020 pela Zahar, reúne uma coletânea de textos escritos pela formidável intelectual, pensadora e professora Lélia Gonzalez. Organizada por Flavia Rios e Márcia Lima, ambas sociólogas e professoras, respectivamente, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade de São Paulo (USP), o livro nos brinda com a oportunidade de poder ler, de uma só vez e com excepcional qualidade, ao amplo (e de tão difícil acesso) conjunto de reflexões críticas formuladas por Gonzalez ao longo dos anos 1970 e 1980.
Para quem não a conhece, Lélia Gonzalez (1935-1994), mineira nascida em família pobre e que se mudou, ainda na infância, para (à época) a capital federal Rio de Janeiro, não pode ser encaixada numa classificação disciplinar. Graduou-se em história e filosofia, mestra em comunicação social, empreendeu estudos de doutorado na área da antropologia, além de ter buscado formação complementar na psicanálise. Em suma, uma mulher e intelectual tão multifacetada quanto rigorosa em suas interpretações. Sua rica vida e percurso intelectual podem ser encontrados na excelente biografia escrita por Alex Ratts e Flavia Rios (2010). O livro que aqui indico foi dividido pelas organizadoras em três momentos principais: ensaios, intervenções e diálogos. O primeiro traz os artigos e outros textos que ela publicou numa diversidade de periódicos ao longo de sua carreira acadêmica. Permite, assim, uma amostra das questões que a motivaram: os tão profundos quanto disfarçados processos de discriminação racial que constituem a sociedade brasileira; a combinação das formas de dominação em termos de classe, raça e gênero, além de suas expressões e efeitos sobre o lugar da população negra, em geral, e das mulheres negras, em particular, no mercado de trabalho e outras esferas de atuação e participação social. As formas de protesto e mobilização aparecem, igualmente, como tema fundamental, permitindo um olhar privilegiado sobre as tensões que cercaram a organização de diversos setores progressistas no Brasil dos anos 1980, destacando-se as fundações do Partido dos Trabalhadores e do Movimento Negro Unificado. Na parte chamada intervenções, a leitora se depara com tomadas de posição as mais diversas, que tratam desde momentos particulares – porém de significado muito mais amplo – de embates no Brasil, passando pela homenagem e reconhecimento de figuras centrais da militância negra (em diversas facetas), como Luiz Gama, Abdias do Nascimento e Zezé Motta, até sua importante participação nos debates da Constituinte, com essa fala de Gonzalez sendo um texto inédito. Na seção de diálogos, a obra encerra com um conjunto de entrevistas, novamente publicadas nos mais diversos veículos da imprensa, mesclando depoimentos pessoais e sua arguta crítica social. Finalmente, tem-se ainda em apêndice um texto a propósito de Lacan, no qual é possível entrever a profundidade e intimidade da autora com a psicanálise, bem como fornecendo elementos para aprofundar sua relação com a leitura da questão racial no Brasil. Ao fim as organizadoras acrescentam uma cronologia, uma breve biografia e uma série de nota, nas quais elucidam e contextualizam, primorosamente, alguns dos ensaios e das reflexões dela em relação ao momento ou evento histórico que motivaram aquele texto. Desse modo, fica aqui a enfática recomendação para a leitura de toda a obra: a escrita de Lélia Gonzalez é bastante agradável, ainda que em muitos momentos também se mostre doída e provocadora, haja vista as tensões que entrecortam sua narrativa e suas análises. Ao mesmo tempo, deve-se evitar confundir isso com a ideia de que ela não nos apresente questões de enorme complexidade e que, é fundamental frisar, continuam – muitas delas, infelizmente – atualíssimas, mesmo mais de três décadas depois de terem sido postas. As ciências sociais, em particular, e o público brasileiro, em geral, ganham muito com essa publicação. Referências GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Orgs.: RIOS, Flavia e LIMA, Márcia. São Paulo: Zahar, 2020. RATTS, Alex e RIOS, Flavia. Lélia Gonzalez. São Paulo: Selo Negro, 2010. Por Pedro Pereira Sinopse: “City Of Joy: Onde Vive a Esperança é um documentário produzido pela Netflix, dirigido por Madeleine Gavin, que traz denúncias dos estupros praticados como estratégia de guerra, na República Democrática do Congo. Porém, há uma narrativa de esperança explanando a agência das mulheres africanas em busca de cura e reconstrução. City Of Joy é um centro de sobreviventes de estupros e de violência de gênero, que tem como objetivo transformar essas mulheres em líderes.”
O documentário dirigido por Madeleine Gavin, lançado em 2018, mostra a realidade dos conflitos de guerra no Congo e como essa guerra impactou as mulheres congolesas, especialmente pela prática dos estupros como tática de guerra. O documentário está centrado em City Of Joy(Cidade da Esperança), uma instituição localizada em Bukavu, Leste da República Democrática do Congo. Essa instituição surgiu como um centro de sobreviventes de estupro e violência de gênero, com o objetivo de transformar essas mulheres em lideranças. Nesse prisma, mostra a agência das mulheres africanas para recuperar sua própria identidade. Umas das questões que o documentário nos revela sobre a realidade congolesa é como a guerra no Congo teve uma questão tanto econômica, quanto pelo controle da mineração. Essa guerra envolveu países poderosos e multinacionais que financiavam milícias para a extração de minérios, como o coltan (usados para fazer computadores, celulares, televisões etc.). Desse modo, o documentário nos convida para compreendermos como as matérias primas chegam no mercado, através da guerra, expropriação de terras e genocídio de pessoas africanas. O colonialismo tem sido uma prática política e teórica muito debatida e questionada. A filósofa nigeriana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí aponta a dupla opressão que a mulher africana sofre quando foi colocada nessa categoria, a partir da colonização ocidental europeia. Nesse sentido ela nos diz: “O próprio processo pela qual as fêmeas foram categorizadas e reduzidas a “mulheres” as tornou inelegíveis para papéis de liderança. A base dessa exclusão foi a sua biologia, um processo que foi um novo desenvolvimento na sociedade iorubá. [...] na sociedade iorubá pré-britânica, as anafêmeas, como os anamachos, tinham múltiplas identidades que não eram baseadas em sua anatomia. A criação de “mulheres” como categoria foi uma das primeiras realizações do Estado Colonial.” (Oyěwùmí, Oyèrónkẹ́ ;2021, pg. 189). Apesar da autora ser nigeriana, o historiador Cheik Anta Diop aponta em seus estudos sobre a África pré-colonial que a unidade cultural da África Negra está estruturada no matriarcado, portanto, a “mulher” tem um papel sagrado e de grande autoridade na sua comunidade (DIOP, 2014). O documentário nos mostra nitidamente um ataque às “mulheres” africanas dos povoados próximos às minas, ataque que é totalmente planejado pela colonialidade, pois significa a destruição da família e da comunidade, o eixo central das relaçõesafricanas, como nos diz Diop. Outro problema interessante a ser destacado é o medo da floresta, que se torna um símbolo de perigo devido às milícias. Segundo Bunseki Fu-Kiau (1991), para os povos BântuKôngo o mundo natural tem sua sacralidade e a floresta tem um papel social muito importante para esse povo. À vista disso, é uma parte da constituição de aprendizado do mûntu (ser humano) e contato com os ancestrais. Consequentemente, tem-se a perda do seu modo de se relacionar com a natureza, parte constituinte das suas iniciações e rituais. Além disso, as formas distributivas de poder sofrem uma grande mudança, ao mesmo tempo que a perda de espaço da “mulher” africana nas tomadas de decisões se dá com a inserção do sistema colonial alterando a cultura autóctone. Contrariamente às narrativas negativas que vêm de África, o que percebo ao assistir o documentário é a força imensurável das “mulheres” africanas que, mesmo com todo tipo de violência relegada ao povo Africano, sempre mostram a força vital e ancestral que nos convida a caminhar, resistir e a ter esperança na união de um povo, e que se torna uma força motivadora de denúncia e resistência contra o sistema colonial e racista. Bibliografia: DIOP, Cheik Anta. A Unidade Cultural da África Negra. Esferas do patriarcado e matriarcado na Antiguidade Clássica. Angola- Luanda: Edições Mulemba, 2014. FU-KIAU, Kimbwandende Kia Bunseki. A visão Bântu Kôngo da sacralidade do mundo natural. Salvador: ACBANTU, 1991. Oyěwùmí, Oyèrónkẹ́ . A Invenção das Mulheres. Construindo um sentido Africano para os discursos ocidentais de gênero/ Tradução wanderson flor do nascimento. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. A terceira temporada da série “O Milagre de Santa Luzia” revela, por meio de um mergulho profundo no universo feminino, um Brasil diverso e riquíssimo culturalmente. Utilizando-se de um painel de mulheres e artistas brasileiras de todos os cantos do país, o programa tem como objetivo “curar a cegueira” da população em relação a esta arte feminina. Apresentado em 13 episódios, e contando com um time de vozes de variados timbres e tons, a obra traz um panorama da cultura popular cantada através da percepção feminina. Maria Nazaré Pereira, Tia Maria do Jongo, Ceumar, Lia de Itamaracá, as irmãs Galvão e o grupo de percussão "Ilú Obá de Min" são exemplos das grandes mulheres que passam pelo programa da TV BRASIL.
Iniciando cada episódio com a frase: "13 de dezembro de 1912 na cidade de Exu (PE), dia de Santa Luzia, nasceu Luiz Gonzaga. Luiz revelou um novo Brasil aos brasileiros e desse milagre surgiram outros brasileiros que revelaram outros Brasis", a série documental revela, por meio de um mergulho profundo no universo da música, um Brasil diverso e riquíssimo culturalmente. Apresentando personalidades e lugares do extremo sul ao norte do país, a obra junta uma cantora de carimbó, uma jongueira, uma rabequeira, uma sambista, uma sanfoneira, entre muitas outras, para contarem suas histórias de produção, referências, atividades, superação, criação. Por consequência, são abordados também outros temas relacionados ao universo da sociedade brasileira e cultura popular, como festas típicas, comunidades tradicionais, religiões e trabalhos sociais. Por conter uma grande diversidade de cantoras e musicistas, trazendo uma importante mulher a cada episódio, efetiva-se, assim, um mapeamento audiovisual da arte popular do Brasil. Além disso, salienta-se que a série, por trazer um foco no feminino, acaba abordando, também, problemas que a maioria das brasileiras sofrem, como por exemplo: o machismo da indústria fonográfica, abusos psicológicos, físicos e/ou sexuais sofridos, intolerância religiosa para com demonstrações de fé não cristãs, racismo e LGBTfobia. Analisando a frase "Eu anuncio o fim da cegueira. Eu anuncio a paz", proferida por Santa Luzia, apresentada em todo final do programa da terceira temporada, pode ser percebida como uma analogia ao significado e a importância do show aos espectadores. Por tratar da temática cultural vista através do universo feminino de musicistas e artistas que são invisibilizadas, marginalizadas ou esquecidas, o programa põe fim na cegueira da população brasileira em relação a elas, de suas composições e da importância cultural ao país. Assista ao trailer do programa em: http://www.miracaofilmes.com.br/trabalho/milagre-de-santa-luzia-terceira-temporada/ O momento atual, em que estamos vivenciado a pandemia de COVID19, e vendo uma série de transformações nas relações políticas e sociais mundiais que aparentemente vieram para ficar, parece único na história. Porém olhando um pouco para trás, alguns outros eventos já ocorridos podem nos remeter com clareza para o momento atual, apresentando diversas similitudes. Aprender com o passado é viver melhor o presente, por isso a importância do registro, da análise e das comparações.
O filme And the Band Played On, traduzido no Brasil como “E a vida continua”, retrata um desses momentos do passado que nos ensinam algo sobre o momento atual. Contendo no elenco atores como Matthew Modine, Angelica Huston, Richard Gere, Steve Martin e o cantor Phill Collins, o filme fala da descoberta e propagação do Vírus da Imunodeficiência Humana, causador da AIDS, principalmente nos Estados Unidos. Baseado no livro homônimo do jornalista Randy Shilts (And the Band Played on: Politics, People and the AIDS epidemic), que posteriormente faleceu vítima da AIDS, o filme se concentra principalmente nas lutas políticas em torno da pandemia da AIDS. Vemos retratados ali desde a recusa do governo conservador americano da época, com Ronald Reagan na presidência, em falar abertamente/publicamente do problema e financiar adequadamente as pesquisas a respeito, bem como promover políticas públicas relacionadas à AIDS, como as disputas em torno do preconceito contra a comunidade gay nos EUA, relacionada diretamente, sobretudo na fase inicial, à propagação da epidemia. Fake news, desinformação, preconceito, dissenso médico a respeito das causas e tratamentos, choques nas relações de gênero e nas relações familiares, toda a discussão apresentada no filme nos faz pensar no surgimento dessas mesmas questões agora gravitando em torno da pandemia do COVID19. Apesar de feito originalmente para a televisão, e de ter quase vinte anos, o filme é interessante, prende a atenção, tem um ótimo roteiro e vale a pena ser visto. Considera-se que partir da lei federal nº 11.684, de 2008, na qual a Sociologia se tornou obrigatória no currículo da educação básica, a licenciatura em Ciências Sociais garante para si um espaço significativo dentro do horizonte profissional, depois de um longo processo de décadas de lutas visando sua institucionalização. Além de ampliar o mercado de trabalho, a presença obrigatória da Sociologia no Ensino Médio oportunizou a realização de pesquisas acadêmicas que explorassem distintas dimensões sociológicas do ensino de Sociologia, tornando-o um objeto de estudo.
O “Dicionário do Ensino de Sociologia”, organizado por Antonio Alberto Brunetta (UFSC), Cristiano das Neves Bodart (UFAL) e Marcelo Pinheiro Cigales (UnB), empenha-se em proporcionar, entre outras coisas, a reafirmação das relações recíprocas entre as atividades de ensino e pesquisa. A obra é uma coleção de 85 verbetes, escritos por 82 pesquisadores(as), vinculados a 49 instituições de ensino superior, técnico e médio, que promete ser a melhor amiga tanto daqueles que se aventuram a tornar a sociologia um conhecimento escolar na educação básica, quanto dos que desejam conhecer e produzir pesquisa sociológica sobre esse universo de possibilidades que é o ensino de sociologia. O objetivo desse material é oferecer respostas sobre o subcampo de pesquisa do ensino de sociologia, que se consolida na última década como ponte intelectual entre a Sociologia e a Educação; e suscitar novas perguntas, propondo possíveis agendas de pesquisa a cada verbete. Ao apresentar as diversas temáticas que se envolvem com o Ensino de Sociologia, e as referências bibliográficas da área, o “Dicionário do Ensino de Sociologia” deseja ampliar a rede de pesquisadores, bem como contribuir para a prática de professores de Sociologia, enquanto os convida a produzir pesquisas sobre suas próprias práticas pedagógicas à medida que refletem criticamente suas realidades. Essa obra reitera a importância do ensino na formação intelectual dos cientistas sociais (para além da pesquisa, e da extensão). Em meio aos ataques governamentais contra as instituições democráticas, torna-se cada dia mais importante instrumentalizar o trabalho dos cientistas sociais e docentes, para que possam expandir a comunicação, para um público mais amplo, dos recursos teóricos e metodológicos acumulados pelas Ciências Sociais, a fim de desmascarar preconceitos e fortalecer uma reflexão racional e crítica da nossa vida social. O “Dicionário do Ensino de Sociologia” é uma produção da Editora “Café com Sociologia”, que contou com financiamento coletivo e, portanto, é uma obra sem fins lucrativos e está disponível para download no link: https://cafecomsociologia.com/disponivel-o-dicionario-do-ensino-de-sociologia/ A aceitação corporal não é fácil, ela é diária. Aprender a amar, cuidar e respeitar um corpo que o mundo diz ser errado ou ter defeitos é um ato extremamente revolucionário na sociedade atual. Uma sociedade, esta, que é cheia de propagandas de medicamentos mágicos, que vão desde produtos para deixar a pele sem manchas e textura até para inibidores de apetite e emagrecimento, e fotos de influencers retocadas no Photoshop, atingindo a, impossível, perfeição. Somos bombardeados diariamente na televisão, revistas e redes sociais com imagens de como, por exemplo, uma mulher deve aparentar: ser magra, alta, ter bumbum e seios empinados, sem cicatriz, sem marcas corporais, cintura fina, olhos grandes, boca carnuda, dentes perfeitamente alinhados, cabelos lisos ou ondulados e, em sua maioria, brancas. Ao não nos reconhecermos em tais locais, passamos a acreditar que nossos corpos são errados e devem ser alterados por qualquer meio.
A mutilação corporal pode ocorrer com o simples ato de não ser gentil com seu corpo, não aceitar que ele é diferente e talvez nunca mude, se tratar com desrespeito ou violência por ser distinto e exigir de você a perfeição vista nas publicidades. Muitas das intervenções feitas para alterar corpos não perfeitos são imprudentes e nada saudáveis, como: tomar um medicamento da moda, fazer uma dieta dos famosos, utilizar produtos que podem danificar cabelos e pele, fazer uma bateria de exercícios físicos da qual não estamos acostumados e até passar por procedimentos estéticos invasivos, todo o sacrifício é feito para se reconhecer no mundo. A internet, ao mesmo tempo que pode lhe fazer cair nas mazelas do corpo inatingível, também pode lhe mostrar corpos reais e diferentes do seu, afinal, corpos são singulares, assim como seus donos. O "Movimento Corpo Livre" é um perfil na rede social Instagram com o intuito de trazer a aceitação corporal para todos os corpos fundado pela ativista Alexandra Gurgel. O perfil tem como objetivo trazer imagens, vídeos e textos de diferentes pessoas com distintas alturas, tonalidades, pesos, marcas, vivências, com e sem deficiência para o propósito de incentivar as pessoas a se amarem como são. O perfil traz uma mensagem positiva sobre a singularidade corporal existente e o processo gradual de autoaceitação, além disso, o perfil luta contra a gordofobia e os padrões de beleza irreais impostos na sociedade. Por fim, devido a atual situação mundial, com a pandemia do COVID-19 e o isolamento social, o perfil traz novidades para acompanhar seus seguidores neste momento delicado. Além de postar diariamente retratos de corpos lindos e reais, todas as terças e quintas às 18 horas e 15 minutos, o "Movimento Corpo Livre" nos convidada a colocar nossos corpos em movimento com a professora de educação física Ingrid Sayuri, aulas são de yoga e treino calistênico para fortalecer os músculos. A conta, ainda, nos proporciona um contato semanal com a psicóloga Beatriz Gurgel que trata de temas como: ansiedade, relacionamentos abusivos, solidão na quarentena e saúde mental nas redes sociais. Além disso, a nutricionista Marcela Kotait vive passando por lá para dar dicas de comportamento alimentar e alimentação saudável. Instagram: https://www.instagram.com/movimentocorpolivre/ “Esse filme é dedicado às meninas e aos meninos que escolheram o cinema, mas que não foram escolhidos por ele.” Ilha é uma produção do cinema independente brasileiro de 2018, com direção de Glenda Nicácio e Ary Rosa. A dedicatória explicita uma das questões levantadas pelo filme: a falta de acesso e oportunidades que crianças em contextos marginalizados têm de ter voz, contar sua história, se fazer existir para o mundo como sujeito e dar sentido ao mundo em seus próprios termos.
O longa acompanha o sequestro de Henrique - um premiado cineasta - por Emerson - jovem que deseja gravar um filme que conte a história de sua vida. Marcado pela metalinguagem e pela ambivalência de ficção e realidade, o longa retrata uma comunidade de habitantes desse “lugar-nenhum” na Bahia. Emerson explora através do filme – que nós assistimos e ele produz – sua negritude, sua sexualidade e sua masculinidade, seus sonhos e ambições, assim como os conflitos familiares decorrentes de um pai agressivo. Ele revive momentos da sua vida através do cinema, com os olhos de quem ele se tornou, e, mais que isso, atribui novos sentidos para suas memórias da infância e da juventude. |
PET IndicaSemanalmente, indicamos filmes, músicas, livros, eventos culturais da cidade, entre outros, acompanhado de um texto autoral que explore o cunho sociológico, antropológico e/ou político da indicação. Histórico
August 2021
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