Em um tempo histórico politicamente opressivo quatro adultos procuram o amor e erotismo que desejam para si. Por suas escolhas e interfaces – muitas vezes ao acaso – cada um deles experimenta à sua maneira o exercício de reconhecer a opressão e tentar ameniza-la. Mais do que um título bonito de pronunciar, para Milan Kundera, o peso da vida está em toda forma de opressão - seja pela repressão política, seja pelos limites impostos por nossos relacionamentos e formas de amar e conviver. No romance, aprendemos que tudo aquilo que apreciamos por uma pretensiosa “leveza”, supostamente livre, acaba, cedo ou tarde, revelando sua obrigatoriedade, um peso insustentável. Entre o leve e o pesado, podemos nos encontrar numa vida coercitiva, exterior a nossas vontades, envolvendo a todas e todos.
O amor (em toda sua bagagem positiva e negativa) é um ponto crucial na história. Por traz dos contos eróticos-amorosos de Tereza, Sabina, Tomas e Franz, pontua-se questões da vida humana – nossas memorias, nossos vínculos sociais e nossos sonhos. A “insustentável leveza do ser” nada mais é do que a alcance pela liberdade. A liberdade, na medida em que procuramos, encontra-se limitada pela família, parceiros e comunidade que nos envolve; contrariamente, aprendemos que somos livres devido aos pesos que nos envolvemos. Kundera pontua que o “peso”, conceito supostamente negativo, é mais que necessário. por Pedro Ribas
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A sociologia pode utilizar obras artísticas como elementos instigadores de reflexões. É uma tarefa que se mostra interessante, principalmente, quando estas obras discutem diretamente uma estrutura social. Aqui, a série “Black Mirror”, já conhecida por suscitar diversas reflexões sobre as interações humanas em um contexto atravessado pela tecnologia (“nossa, isso é tão Black Mirror”), nos fornece um profundo exemplo dessa potencialidade da obra de arte no episódio “Queda Livre” (no inglês original, “Nosedive”). Nesse episódio, o mundo é marcado por classificações pessoais acessíveis por meio de um dispositivo móvel. Através dele, é possível verificar a nota da pessoa com quem se interage, a qual é formada a partir de diversas avaliações anteriores. Nesse contexto, uma moça com uma nota elevada esforça-se ferozmente para aumentar ainda mais sua avaliação, fonte de status social. A ficção aqui pode ser compreendida como descrição exagerada da realidade (algo como um tipo ideal). O episódio pode exemplificar, em tempos de “Instagram”, como a sociedade acaba por pressionar os sujeitos a realizarem certo tipo de “performance” - como trata E. Goffman - e como essa relação é permeada pela tecnologia, de forma que esta fornece o ambiente no qual se dá a relação performance-valoração do sujeito com os demais. Goffman (sociólogo/psicólogo social) defende que os indivíduos interagem entre si a partir de um esforço para causar impressões desejadas no outro. Essas impressões são buscadas através da encenação ou “performance”. Ou seja, na tentativa de causar impressões específicas as pessoas assumem certa “fachada” que acreditam causar tal impressão. O grupo emite alguma resposta a essas performances (valoração) e, de acordo com essa resposta, se, por exemplo, tiver sucesso ou não de acordo com o que se busca, o sujeito mantém ou altera sua atuação. De modo semelhante acontece no episódio, no qual, assim como no Instagram, as performances se dão no ambiente virtual, onde são valoradas por “curtidas” e, finalmente, mantidas ou alteradas dali para frente conforme essa valoração pelo público. O episódio “Queda Livre” é o primeiro da terceira temporada, disponível na plataforma de streaming “Netflix”. Comentem abaixo o que vocês acharam da análise do episódio. Contem para a gente seus episódios favoritos de “Black Mirror” e sugiram caso conheçam alguma outra série com a temática parecida. por Matheus Rolim Paiva No sábado, dia 13/10, Roger Waters, ex-integrante da banda de rock progressivo "Pink Floyd", apresentou-se em Brasília. Waters teve a vida marcada pela 2ª Guerra Mundial, pois seu pai teve sua vida ceifada nos campos de batalha. O fato se tornou um marco na vida do artista, que promove em seus shows debates sobre direitos humanos, antissemitismo, questões ambientais e desigualdades sociais. A vinda do artista ao Brasil foi de tamanha repercussão, devido ao contexto político. Roger, em resposta, reiterou o papel dos artistas em tempos de crise, e afirmou em entrevista ao G1: “Eu acredito que todos os artistas, não interessa qual tipo de arte você faça, todos têm responsabilidades de usar a arte para expressar ideias políticas e criar demandas em favor dos direitos humanos para todos." O engajamento de Waters aos 75 anos de idade, sem dúvidas, é motivo de inspiração para todos, pois mesmo tendo presenciado os momentos de crise na história do século XX, o artista nos deixa mensagens de esperança e resistência. A indicação são as músicas tocadas no show que podem ser ouvidas pela playlist feita no perfil do Pet-Sol Unb no Spotify. Acesse pelo link: https://open.spotify.com/user/gyr0nuyeiw5q9027ra7jctl25/playlist/3OASL7Or5w1Hd62DVinyLL?si=QCrzy9tBTw-E4lM2owzzmw&fbclid=IwAR2DkF8kQ45oi8kiU3ffechxr_MCQCMeXzqWSJAyRL_9C-5xZ9kBICWDwL0 por Larissa Vieira |
PET IndicaSemanalmente, indicamos filmes, músicas, livros, eventos culturais da cidade, entre outros, acompanhado de um texto autoral que explore o cunho sociológico, antropológico e/ou político da indicação. Histórico
August 2021
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