Conceição Evaristo, nascida no dia 29 de novembro de 1946 em Belo Horizonte, viveu a maior parte da vida em favelas da capital mineira, ambiente no qual se passa o livro “Becos da Memória”. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1971, onde ingressou na universidade, para o curso de Letras, sendo a primeira de sua família a conseguir um diploma universitário, e mais tarde conquistou os títulos de Mestre em Literatura Brasileira e Doutora em Literatura Comparada.
Becos da Memória foi publicado em 2006 e é o segundo romance de Conceição Evaristo. É possível encontrar semelhanças entre a vida da autora e da personagem que narra maior parte do livro, Maria-Nova, uma menina de 13 anos. Ambas ajudavam suas famílias lavando roupas e fazendo entregas, enquanto estudavam. Mas Becos da Memória se trata de uma ficção, afinal, como a própria autora diz no início do livro: “As histórias são inventadas, mesmo as reais, quando são contadas”. As lembranças de Maria-Nova nos apresentam histórias como a de Negro Alírio, que luta pelos direitos dos moradores da favela, Ditinha, que cuidava do pai enfermo, dos três filhos e era empregada doméstica, Vó Rita, a parteira da favela e mais tantos outros que estão sofrendo com o processo de desfavelamento, tornando-se assim porta-voz dos sentimentos, alegrias e angústias das personagens inseridas naquele cotidiano de miséria e exclusão. Põe o contraste de como era a vida na favela antes dos moradores serem obrigados a deixar suas casas em troca de pouco dinheiro ou material de construção o suficiente apenas para iniciar um barraco numa nova localidade com a realidade do esvaziamento dos becos e as tristezas e incertezas que o desmonte da favela trouxe. Com formato e linguagem magnéticos, o livro coloca em evidência o sentimento dos favelados, e traz consigo a reflexão sobre o lugar dos negros, aqueles que habitavam as senzalas e agora os becos, na formação da identidade brasileira.
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August 2021
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